Bem, o motivo deste post é que eu estou lendo o livro "Preconceito Lingüístico: O que é, como faz.", do Marcos Bagno.
O autor é lingüista, e os lingüistas vivem em guerra com os gramáticos. O motivo da guerra é que os lingüistas estudam a língua como um processo vivo e dinâmico, com as variantes faladas e escritas das diferentes regiões falantes do idioma, e os gramáticos estudam apenas o que chamam de "norma culta" ou "variante padrão" da língua.
O problema todo é que, enquanto os gramáticos sustentam a existência de uma língua que deveria ser o padrão, os lingüistas estudam a realidade da língua, sem fazer juízo de valor. Mas como assim?
Os gramáticos tentam impor a "norma culta", a gramática tal como a aprendemos na escola, com todas as suas regras e exceções, que não são totalmente conhecidas ou seguidas por ninguém, nem mesmo pelos próprios defensores da "norma culta". Já os lingüistas reconhecem as diversas formas diferentes de falar uma mesma língua. Mesmo dentro de um mesmo país.
Por exemplo: Um gramático diz que é errada a seguinte frase: "Me dá um beijo!" alegando que o correto seria "Dê-me um beijo!"... O lingüista dirá que não existe certo ou errado. Não existe o erro neste sentido absoluto, está errado e ponto final. O lingüista se propõe a estudar a língua como ela é, não como um ideal sem precedentes e carregado de preconceitos, que não aceita o idioma como ele se apresenta de fato, e que dá margem para piadas com os sotaques ou o português "errado" falado pelas pessoas.
Para mais esclarecimentos, sugiro a leitura do livro citado. Como leitura adicional, sugiro: "Emília no país da Gramática" e "O colocador de pronomes", de Monteiro Lobato; e também "Aula de Português", de Carlos Drummond de Andrade. Recomendo também a crítica ao referido livro que saiu na Revista DF Letras, que pode ser lido no site do Marcos Bagno (www.marcosbagno.com.br), ou diretamente no link: http://www.marcosbagno.com.br/conteudo/deu_no_jornal/romario_schettino.htm.
Abraços a todos!
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Um comentário:
Preconceito linguistico é uma coisa muito séria e está muito mais presente na vida das pessoas do que elas podem imaginar. Vai desde a jornalista nordestina que é obrigada a 'esquecer' seu sotaque durante a apresentação do telejornal até a tentativa de ensinar estrangeiros a forma correta de se falar determinadas palavras. Eu mesmo presenciei uma professora do curso de português para estrangeiros na unb tentando fazer um boliviano amigo meu dizer "tchia" no lugar de "tia" (as fontes relacionadas da fonética fazem falta aqui.
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