Um dos blogs que visito com freqüência e sempre recomendo é o Leve um Casaquinho. Um post relativamente recente que me emocionou foi este que reproduzo aí embaixo. O pos original está aqui.
Beijos,
Fabão
Aprender com os filhos
Antes de ser mãe, sempre ouvi que “a gente aprende muito com os filhos”. Passei o domingo inteiro com ela. Workshop de poesia.
***
“Bonito”
Estávamos brincando no quarto dela. Tocou a campainha, ela fez uma carinha de expectativa e me perguntou:
- Quem é?
Resolvi devolver a pergunta.
- Quem será, filha? Quem você acha que é?
- Vovô.
- Você está com saudade do Vovô Luiz, filha?
- Bonito.
Ninguém escreveria um diálogo em que a resposta afirmativa para “você está com saudade?” fosse, simplesmente, “bonito”. É coisa de criança, pura poesia.
***
“Do meu coração”
Eu empurrava o carrinho pela calçada e, de repente, percebi que passaríamos por um homem dormindo no chão. Enrolado num cobertor sujo da cabeça aos pés, na verdade os pés e a cabeça apareciam, descobertos e cinzentos, dando impressão de que aquilo tudo era uma só coisa esquecida e abandonada, coberta e homem, unhas, cabelos, tristeza e só.
A primeira coisa que meu instinto materno – politicamente incorreto, claro – apontou foi: preciso desviar, ela vai sentir medo. Ela só tem pouco mais de um ano e meio, ainda não pode entender certas coisas. Vai se sentir ameaçada, imaginar que é um bicho, chorar, levar um susto. E tem mais: aquilo era a imagem da tristeza, da solidão e do abandono, e eu não quero que a minha filhinha tenha contato com isso tão cedo. Ponto final.
Uma vírgula, não dava mais tempo de desviar. Era dia de finados, a rua estava abarrotada, tinha maratona no Aterro e os carros estavam estacionados tão próximos uns aos outros que não caberia nem uma pessoa magra, que dirá uma mãe com carrinho. Não pude evitar; passamos pelo mendigo.
- O moço. O moço.
- Sim, filha, é o moço.
- Dormindo.
Apressei o passo.
- Isso mesmo, filha, o moço está dormindo.
- Quer ver.
- Eu sei que você quer ver, mas o moço precisa descansar, vamos deixar ele ali.
- Quer ver. Quer ver.
À medida que fomos nos afastando, ela deitou a cabecinha para poder acariciar o encosto do carrinho e, como faz com as bonecas quando está brincando, deu pequenas palmadinhas e cantou:
- Nana, moço, do meu coração...
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
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